terça-feira, 12 de abril de 2011

Vaidade

Definição do Dicionário: Vai.da.de - sf (lat vanitate) - Qualidade do que é vão, instável ou de pouca duração. Desejo imoderado e infundado de merecer a admiração dos outros. Vanglória, ostentação. Presunção mal fundada de si, do próprio mérito. Coisa vã, fútil, sem sentido. Futilidade. Ostentação. Arrogância. Afetação. Exaltação do amor próprio.

"Tudo em nós é vaidade, fora a sincera confissão que fazemos perante Deus das nossas vaidades"

(Jacques Bossuet)

Vaidade é o defeito de quem cria uma imagem pessoal com o intuito de transmiti-la aos outros a fim de ser admirada por isso. Notoriamente, a pessoa normalmente se vale de recursos exteriores para conseguir isso, como estética, aparência, bens materiais e glamour, mas isso também pode se estender para outras manifestações como, por exemplo, o campo psíquico. Ou seja, a pessoa deixa de se preocupar com o seu caráter e sua essência e passa a valorizar apenas estereótipos passageiros em prol de uma ostentação sem sentido, tornando-se fútil, vã, arrogante e até mesmo afetada.

Contudo, antes de tratarmos sobre a Vaidade, temos que falar dos aspectos positivos e negativos do Orgulho, uma vez que para os aspectos psicológicos e sociais que abordarei à frente, a primeira se deriva do segundo – importante frisar que no trabalho com a estrela setenária e até mesmo em outras vertentes, Vaidade e Orgulho são tratadas da mesma maneira -, existindo pequenos diferenciais entre ambos, sendo a Vaidade decorrente do Orgulho, e estando bem próxima também de aspectos ligados a Luxúria, como uma de suas filhas, o “Amor de si”. Como os outros defeitos, esse também tem interconexão com os demais, podendo, através de situações peculiares, levar o individuo a excessos com a gula, a ira, a inveja, a luxúria, a acídia e a avareza. Em outras palavras, nós podemos tratar da Vaidade como sendo um aspecto negativo do Orgulho.

Como aspecto positivo, o “orgulho bom”, como é chamado, é aquele sentimento que te dá a devida noção de gozo do que foi conquistado por mérito. É aquele que te permite um auto-reconhecimento, sem a sensação de falsa modéstia. Aquele que não precisa da aprovação de ninguém ou mesmo que ninguém saiba do que se passa, para que a pessoa tenha consciência da evolução que fez em algum aspecto e se sinta bem consigo mesma por isso. Seria uma satisfação benéfica por algo, seja com relação a si ou a um terceiro, como sentir satisfação pela conquista de um filho, por exemplo.

Já nos aspectos negativos, o Orgulho deixa claro a imaturidade do ego, que prevalece sobre a verdadeira vontade da pessoa, incitando-a aos excessos. Nesse ponto é que ele é equiparado a Vaidade, pois trata-se de aspectos tais como amor-próprio acentuado; contrariar-se por pequenos motivos; reagir explosivamente a qualquer observação ou crítica com relação a si; necessidade de ser o centro das atenções; negar a possibilidade de seus erros, mantendo-se num estado de consciência fechado; menosprezo pelas idéias do próximo; encher-se de satisfação presunçosa, ao ser elogiado por qualquer motivo; preocupação excessiva com sua aparência externa, posição social e/ou prestigio pessoal; etc., mostrando extravagância nos pontos que considera positivos e escondendo seus pontos negativos.

O campo da psicologia compreende que o vaidoso vive numa atmosfera ilusória, de destaque social ou intelectual, criando assim, barreiras muito densas para penetrar na realidade do seu próprio interior. Na maioria dos casos, trata-se de um mecanismo de defesa para encobrir algum aspecto não aceito de ordem familiar, limitações da sua formação e até mesmo o resultado do seu próprio posicionamento diante da sociedade. A vaidade, nas suas formas de apresentação, quer pela postura física, gestos estudados, retórica no falar, atitudes intempestivas, reações arrogantes e etc., reflete, quase sempre, uma deformação de colocação do indivíduo face aos valores pessoais que a sociedade estabeleceu. Isto é, quanto mais artificiais e exuberantes a aparência, os gestos, o palavreado, mais chamam a atenção e isso agrada o intérprete, satisfazendo a sua necessidade pessoal de ser observado. No íntimo, o protagonista reflete, naquela aparência toda, grande insegurança e acentuada carência de afeto que nele residem, oriundas de muitos fatores desencadeados em diferentes fases do seu desenvolvimento.

O vaidoso o é, muitas vezes, sem perceber, e vive desempenhando um personagem que escolheu. No seu íntimo, porém, é sempre bem diferente daquele que aparenta, e, de alguma forma, essa dualidade lhe causa conflitos, pois sofre com tudo isso e sente necessidade de encontrar-se a si mesmo, embora às vezes sem saber como.

Como tudo o que está dentro, é como o que está fora, podemos levar essas considerações a níveis sociais. Nada contribui tanto para a sociedade dos homens, como a mesma vaidade deles: os Impérios e Repúblicas, por exemplo, tiveram suas origens apoiadas nesse tipo de sentimento coletivo. Nos dias de hoje, podemos perceber que o sistema capitalista se vale facilmente dessa característica coletiva para fortalecer cada vez mais a sua cadeia e dinamismo – “Se um tem, eu também tenho que ter” (vaidade + inveja, só pra citar um exemplo de um defeito está sempre arraigado em outro).

Levando o assunto para um âmbito mais espiritualista, podemos afirmar que a vaidade, sorrateiramente, está quase sempre presente nas nossas atitudes. E é nesse ponto que espíritos inferiores podem servir-se para abrirem caminhos às perturbações entre amigos e familiares. Pode ser muito sutil a manifestação da vaidade no nosso íntimo, contudo não é pequeno o esforço que devemos desenvolver na vigilância para não permitirmos a aproximação de influências que encontram apoio nesse tipo de defeito.

Astrologicamente falando, esse defeito está ligado ao Sol. Na estrela setenária, a Vaidade é trabalhada sob o título de “Orgulho” e tem como aspecto positivo a Magnanimidade. Seu metal de correspondência é o Ouro. Na mitologia, um dos contos mais conhecidos a esse respeito, é a história de Narciso. De acordo com os mestres do Cristianismo, o pecado principal, o supremo mal, é exatamente o orgulho. A falta de pureza, a ira, a ganância e todos os outros, comparados a ele, são ninharias: O orgulho conduz a todos os outros pecados. É o mais completo estado da alma anti-Deus. Foi pelo orgulho que o demônio se tornou demônio.

Conclusões:

A vaidade é uma falha psicológica que entorpece a inteligência. Num mundo aonde a maioria dos seres humanos pretende aparecer ou ser melhor ou superior do que os seus semelhantes, a condenação à imobilidade da inteligência e da sensibilidade é um grande risco.

Contudo, para lidarmos com qualquer aspecto falho na nossa personalidade, é de fundamental importância entendermos primeiro que a tolerância deve começar de nós para nós mesmos. Dessa forma o nosso trabalho de prospecção interior torna-se mais suave e nós não entramos no círculo vicioso e improdutivo de nos maldizermos ou nos martirizarmos pelos defeitos que ainda temos. Precisamos, portanto, trazer aos níveis de nossa consciência aquelas manifestações impulsivas que nos dominam de certo modo e que, progressivamente, desejamos controlar.

É preferível nos olharmos de frente, corajosamente, e lutar por nos­sa melhora, não naquilo que a sociedade estabeleceu, dentro dos limites transitórios dos bens materiais, mas nas aquisições interiores: os tesouros eternos que “a traça não come nem a ferrugem corrói”.

Quanto ao amor-próprio, deve ser desprovido do artifício projetado pelo imaginário da vaidade. Amar a si mesmo não deveria ser diferente do que amar os semelhantes e, em decorrência, o Criador de tudo quanto existe; um amor isento de pretensão, soberba e imaginação.


No meu comportamento, eu já notei atitudes vaidosas nos seguintes aspectos:

· Evidenciando qualidades pessoais, não poupando referências a mim mesma ou a algo que realizei.

· Intolerância para com aqueles cuja condição intelectual é mais humilde, não evitando a eles referências desairosas.

· Não reconhecimento da minha própria culpabilidade em situações de conflitos.

· Contrariar-me por pequenos motivos, reagindo explosivamente a qualquer crítica fundamentada ou não.

· Necessidade de fazer prevalecer sempre as minhas próprias idéias.

· Encher-me de satisfação presunçosa, sobretudo quando elogiada por algum motivo, como que se reafirmando a minha importância pessoal e em contrapartida, me sentindo menosprezada quando esse tipo de reconhecimento não me é feito.

· Não admitir me humilhar diante de ninguém ou mesmo pedir ajuda e demonstrar minhas fragilidades, considerando essa atitude um traço de fraqueza.

· Usar de ironia ou deboche em situações de contendas.

· Obstrução mental na capacidade de me auto-avaliar, criando situações de proporções maiores que a realidade e até mesmo fictícias para justificar alguma falha ou erro.

· Pegar responsabilidades que muitas vezes me sobrecarregam, pelo simples fato de querer ser “a bonitinha ou perfeitinha” e ser reconhecida por tal.

· ...

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